O assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, trouxe à tona uma dura realidade: a fragilidade da proteção oferecida a autoridades que, ao longo da carreira, enfrentaram diretamente o crime organizado. Morto em uma emboscada no litoral paulista, Fontes foi executado de forma brutal por criminosos fortemente armados, em um episódio que revelou falhas no sistema de segurança para ex-integrantes das forças de segurança.
Fontes ocupava, atualmente, um cargo público municipal, mas sua trajetória na polícia o havia marcado como inimigo declarado de facções criminosas. Delegado experiente, liderou operações contra o tráfico de drogas, participou de investigações de grande repercussão e chegou ao posto mais alto da corporação. Em sua passagem pela chefia da Polícia Civil, enfrentou diretamente líderes do crime organizado, tornando-se alvo natural de represálias.
Apesar desse histórico, não havia registro de que tivesse solicitado proteção especial ao Estado. O governo paulista confirmou que nenhuma medida extraordinária de segurança havia sido pleiteada ou concedida. Essa ausência de solicitação, somada à falta de uma política proativa de proteção a ex-agentes em situação de risco, levantou questionamentos: até que ponto cabe apenas ao indivíduo pedir proteção, quando sua carreira, por si só, já o expõe a ameaças evidentes?
As imagens do crime reforçam a gravidade da execução. O ex-delegado foi perseguido em alta velocidade, teve o carro atingido e capotado entre dois ônibus. Em seguida, os criminosos abriram fogo com fuzis, sem chance de defesa. A violência do ataque revelou planejamento, informações privilegiadas e a audácia típica das ações ligadas a grupos organizados. A investigação já identificou o veículo usado na fuga, mas a caçada aos responsáveis ainda é uma corrida contra o tempo.
A execução mobilizou diferentes esferas de poder. Autoridades estaduais destacaram equipes de inteligência e investigação para o caso, enquanto o governo federal ofereceu apoio técnico, reforçando a gravidade do episódio. O Ministério Público também acompanha de perto, por meio de núcleos especializados no combate ao crime organizado, em busca de respostas rápidas e contundentes.
Mais do que um caso isolado, a morte de Ruy Ferraz Fontes expõe uma fragilidade estrutural: a ausência de protocolos claros de segurança para ex-delegados, juízes e promotores que, ao longo da vida, se tornaram alvos preferenciais de organizações criminosas. O Estado brasileiro ainda atua de maneira reativa, acionado apenas após a tragédia consumada, em vez de agir de forma preventiva.
Esse episódio lança um alerta urgente. Até quando o país permitirá que aqueles que dedicaram suas carreiras a enfrentar o crime sejam deixados à própria sorte, mesmo sob risco iminente? A execução de Fontes é mais do que um crime brutal: é um sinal de que o poder público precisa rever suas estratégias de proteção. Caso contrário, novas perdas poderão se repetir — e o silêncio diante da falta de prevenção continuará sendo tão mortal quanto as balas disparadas pelos criminosos.