No Centro da Crise Bancária: Como a Liquidação do Master Abala o Fundo Garantidor de Crédito

O sistema financeiro brasileiro vive um momento de tensão. A liquidação extrajudicial do Banco Master, determinada pelo Banco Central, coloca em xeque a capacidade do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) de honrar as garantias oferecidas a investidores, especialmente aqueles que aplicaram em CDBs com promessas de retornos muito acima da média de mercado.

A situação do Master se transformou em um verdadeiro teste para a solidez do FGC. A instituição bancária, que cresceu rápido oferecendo produtos atraentes, acumulava uma carteira de investimentos de alta rentabilidade, mas também havia concentrado ativos problemáticos — como precatórios e direitos creditórios — que agora geram incertezas sobre o montante efetivamente disponível para pagamento dos credores.

Com a liquidação extrajudicial decretada, o Banco Central nomeou uma equipe liquidante para gerir o processo. Ao mesmo tempo, o FGC se prepara para ativar seu mecanismo de ressarcimento para os depositantes e investidores elegíveis. No entanto, não se trata de um caminho automático: primeiro, a base de dados de credores precisa ser enviada pelo banco liquidado; depois, o FGC precisa validar cada registro antes de liberar os pagamentos — um processo que pode levar semanas.

O limite de cobertura do FGC segue restrito: até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ por instituição. Aplicações acima desse valor ficam fora da garantia e, portanto, dependem de outras formas de resolução ou reivindicação judicial. Para muitos clientes do Master, essa limitação reforça a urgência e a apreensão sobre o desfecho da crise.

A complexidade do cenário, porém, vai além do pagamento individual. A liquidação do Master se tornou um gatilho regulatório. O Conselho Monetário Nacional (CMN) já anunciou ajustes nas regras do FGC para mitigar riscos similares no futuro: uma das principais mudanças exige que instituições com perfil financeiro mais arriscado mantenham parte dos seus recursos aplicados em títulos públicos, considerados mais seguros. Essa medida visa reduzir a alavancagem excessiva e a exposição potencial do FGC a falhas sistêmicas.

Até agora, o FGC vem demonstrando solidez patrimonial: sua liquidez ultrapassou R$ 121 bilhões, reforçando o colchão de proteção para os investidores. No entanto, especialistas alertam que um episódio dessa magnitude — com a potencial demanda de ressarcimento envolvendo dezenas de bilhões — pode provocar um impacto sistêmico se não houver planejamento rigoroso.

Há ainda a discussão sobre uma possível intervenção do Banco Central ou a venda dos ativos do Master por meio de uma liquidação privada, com apoio do FGC. Entre os cenários analisados, está a divisão da instituição entre ativos “bons” — que poderiam ser aproveitados por outro comprador — e o “bad bank”, comprometido com as dívidas mais arriscadas e com a própria liquidação sob a tutela do fundo garantidor.

Para os investidores afetados, é fundamental acompanhar de perto os comunicados do FGC e, se tiverem títulos do Master, se preparar para solicitar o ressarcimento por meio dos canais oficiais do fundo. Essa crise revela mais do que riscos pontuais: escancara a necessidade de evolução regulatória para garantir que inovações financeiras agressivas não comprometam a solidez do sistema bancário e a proteção de depositantes.

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