Abordagem integrativa une compostos vegetais e estudos sobre o sistema nervoso para tratar ansiedade, depressão e outras disfunções mentais. Conceito é apresentado no livro Neurofitoterapia Clínica, escrito por ele mesmo.
Por Anna Julia Caixeta Bueno
Uma nova abordagem científica está surgindo no campo da saúde mental. O neurocientista Caio Casimiro de Queiroz Silva criou o termo “Neurofitoterapia”, um neologismo técnico que reúne três etimológicos: neuro (do grego neûron, “nervo” ou “sistema nervoso”), fito (do grego phytôn, “planta”) e terapia (do grego therapeia, “tratamento” ou “cura”). Em tradução literal, significa “tratamento do sistema nervoso por meio de plantas”. Mas, segundo o autor, seu sentido contemporâneo vai muito além da etimologia.
A neurofitoterapia consiste no estudo e na aplicação de substâncias vegetais para promover efeitos terapêuticos sobre o sistema nervoso central e periférico. O foco está na prevenção, regulação e recuperação de funções mentais, emocionais e cognitivas, servindo como suporte ou alternativa a tratamentos farmacológicos em casos de ansiedade, depressão, insônia, TDAH, burnout e disfunções cognitivas leves a moderadas.
“Quando se dizia fitoterapia, muitos ainda viam como algo místico ou pseudocientífico. A Neurofitoterapia veio para mostrar que há respaldo científico sólido, com protocolos, dosagens e objetivos clínicos claros”, explica o neurocientista em entrevista.
De acordo com Queiroz, a nova área surgiu da necessidade de discernir o uso popular das plantas medicinais das práticas baseadas em evidências científicas. No livro Neurofitoterapia Clínica, ele introduz protocolos próprios, que incluem anamnese detalhada, cálculos de dosagem e definições de princípios ativos específicos para cada condição neurológica. Apenas profissionais da área da saúde mental podem aplicar a metodologia de forma segura.
Além das plantas, a Neurofitoterapia usa algumas substâncias que ajudam o cérebro a pensar melhor, lembrar das coisas e se sentir mais calmo. A proposta, segundo o autor, é diminuir o uso de remédios químicos para a mente e oferecer tratamentos naturais mais suaves e fáceis de conseguir.
“Vivemos uma pandemia dos psicofármacos. Eles são apenas paliativos. A Neurofitoterapia vem para revolucionar a psicofarmacologia com alternativas mais seguras, até dez vezes mais baratas e com menos efeitos adversos”, afirma Queiroz.
O pesquisador destaca ainda que o conceito foi desenvolvido a partir de estudos em psicofarmacologia (ciência que investiga a ação de medicamentos no sistema nervoso central, analisando sua interação com os neurotransmissores para controlar transtornos mentais) e neurociência (estudo científico do sistema nervoso, investigando como seu funcionamento se relaciona com processos como a memória, a emoção e a aprendizagem), com especial atenção à barreira hematoencefálica (estrutura que regula a passagem de substâncias da corrente sanguínea para o cérebro). Segundo ele, compreender essa dinâmica permite identificar quais princípios ativos de origem vegetal conseguem realmente agir no sistema nervoso central.
Mesmo sem reconhecimento oficial dos conselhos de saúde, a Neurofitoterapia já começa a ganhar visibilidade. Desde o lançamento do livro Neurofitoterapia Clínica, o termo vem se difundindo entre alguns profissionais e até nas redes sociais.
“Quando cunhei o termo, não havia nada na internet. Hoje, já existem vídeos, matérias e pesquisas sobre o tema. É o início de uma nova área científica”, avalia o pesquisador.

Para o futuro, Caio Casimiro planeja lançar novas edições da obra e expandir seus estudos sobre o tema. Ele acredita que a Neurofitoterapia pode se consolidar como um campo oficial da ciência, integrando-se a práticas clínicas e acadêmicas no Brasil e no exterior.
“É uma tendência que veio para ficar. O mercado, as universidades e até as indústrias farmacêuticas vão acabar se voltando para isso. É uma revolução que já começou.”